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O Amor Que Enxerga Além: Dia Mundial da Conscientização do Autismo

O amor de uma mãe é capaz de ver o que o mundo, muitas vezes, ignora. No Dia Mundial da Conscientização do Autismo, mais do que falar sobre o transtorno, queremos falar sobre histórias reais, desafios diários e, acima de tudo, amor incondicional.

O que você vê quando pensa em autismo? Algumas pessoas imaginam silêncio, outras pensam em desafios, mas quem convive com alguém no espectro sabe que há muito mais nessa jornada. O autismo não é apenas um conjunto de características; é uma forma única de existir no mundo.

Por trás de cada diagnóstico, há uma história. E, na maioria delas, há uma mãe que luta, aprende e se fortalece todos os dias. Mães que se tornam especialistas, defensoras e, acima de tudo, fontes inesgotáveis de amor.

Hoje, conversei com uma dessas mães. Uma mulher que conhece de perto os desafios e as alegrias de criar um filho autista. Porque ninguém melhor do que quem vive essa realidade para nos ajudar a entender, respeitar e incluir.

PAULA BRANDINO: Qual foi o maior desafio e a maior descoberta que você teve desde que recebeu o diagnóstico do seu filho?

ELLEN ALMEIDA: O maior desafio são em relação aos “outros”. São muitos julgamentos, muitos apontamentos e infelizmente a “inclusão” ainda não acontece 100%. Infelizmente as pessoas são maldosas e excluem. A descoberta é que o autismo não é uma sentença. Reforço todos os dias pra Caleb que ele pode ser o que ele quiser. Eu descobri o amor verdadeiro, ser amada por um autista é ser inundada por um amor real e genuíno. E descobri a força que tenho. Ser mãe de autista é sobretudo ser forte !


PAULA BRANDINO: O que você gostaria que as pessoas soubessem sobre o autismo para que a inclusão fosse mais real e respeitosa?

ELLEN ALMEIDA: Eu queria que as pessoas entendessem que o autismo não é um problema a ser corrigido, mas uma forma diferente de existir no mundo. Meu filho não é “estranho”, “mal-educado” ou “sem limites”. Ele é autista. Isso significa que ele sente o mundo de um jeito diferente, reage de formas que nem sempre serão compreendidas, e precisa de acolhimento, não de olhares tortos. As pessoas acham que o autismo tem uma única cara “Ah, ele nem tem cara de autista” mas o autismo não tem cara. É um espectro. Cada autista é único, com suas habilidades, desafios e formas de se expressar. A inclusão não é só aceitar a presença de um autista em um ambiente/espaço, inclusão de verdade é compreender, respeitar e quando for preciso, fazer adaptações. Inclusão é entender que ele pode precisar de um ambiente mais tranquilo, de uma forma diferente de se comunicar, e de previsibilidade para se sentir seguro. E, acima de tudo, é respeitar quem ele é, sem tentar encaixá-lo em padrões que não fazem sentido para ele. Caleb não precisa mudar para ser aceito. O que precisa mudar é a forma como o mundo enxerga e trata as pessoas autistas. Porque quando há respeito e empatia, a inclusão deixa de ser um discurso bonito e vira realidade.

Foto: Arquivo Pessoal


PAULA BRANDINO: Que mensagem você deixaria para outras mães que estão iniciando essa jornada?

ELLEN ALMEIDA: Para você, mãe que está iniciando essa jornada, eu quero dizer: respire. Eu sei que pode parecer assustador no começo. O diagnóstico traz muitas dúvidas, medos e, às vezes, até um luto pelo que você imaginava. Mas eu prometo: seu filho continua sendo o mesmo, com o mesmo sorriso, o mesmo olhar cheio de vida, o mesmo amor por você. O que muda agora é o seu olhar sobre o mundo dele. Haverá desafios, sim. Algumas pessoas não vão entender, outras vão julgar. Mas também haverá descobertas incríveis. Você vai aprender a enxergar beleza nos mínimos detalhes, a celebrar cada conquista como uma grande vitória e a se tornar a maior defensora do seu filho. (Sim, você vai virar uma leoa (risos) ) As terapias serão aliadas importantes nessa caminhada. Não para “mudar” ou “consertar” seu filho, mas para ajudá-lo a se desenvolver no seu próprio ritmo, com respeito às suas particularidades. Fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicoterapia… Cada uma delas pode abrir caminhos para que ele tenha mais autonomia e qualidade de vida. E, além do acompanhamento para seu filho, não se esqueça de você. Muitas mães mergulham tanto na rotina de terapias, laudos e estímulos que acabam se deixando de lado. Ter um suporte psicológico para você também é fundamental. Uma psicóloga pode te ajudar a lidar com os desafios emocionais da jornada, com as cobranças internas e externas e com a necessidade de encontrar equilíbrio entre cuidar do seu filho e cuidar de si mesma. Você não precisa ser forte o tempo todo. E não precisa passar por isso sozinha. Tão importante quanto as terapias é a aceitação. Aceitar seu filho como ele é não significa desistir do desenvolvimento dele, mas sim enxergar o valor que ele já tem agora, exatamente do jeito que é. Quando você para de tentar encaixá-lo em expectativas irreais e começa a celebrar suas pequenas e grandes conquistas, tudo fica mais leve. Eu mesma me emocionei profundamente este ano quando Caleb (aos 8 anos) começou a escrever em letra cursiva. Foi um momento de orgulho e felicidade genuína, porque cada avanço, por menor que pareça para os outros, é gigante para nós.
Saiba também que você não precisa caminhar sozinha. Existem redes de apoio e grupos formados por pais que vivem as mesmas experiências que você. Em Janaúba e região, a AMA (Associação de Pais e Amigos do Autista) é um exemplo disso. Criada por famílias que entenderam a importância de se unir para lutar pelos direitos de seus filhos, a AMA oferece suporte, informação e acolhimento. A Maristela está a frente com um trabalho incrível. Buscar esse tipo de apoio pode fazer toda a diferença, porque além de encontrar recursos valiosos, você também encontra pessoas que realmente entendem sua jornada. Permita-se sentir, chorar quando precisar, mas nunca se esqueça de olhar para seu filho com amor e orgulho. Ele não está quebrado, não precisa ser consertado. Ele precisa de você, do seu apoio, do seu olhar que acolhe e acredita. E vai por mim, acreditar nele e no potencial dele(a) é a coisa mais importante do mundo.
E acredite: vai dar trabalho? Sim. Mas também vai valer a pena. E vai valer muuuuito. Você vai descobrir uma nova forma de amar, mais profunda e intensa do que jamais imaginou!!

Foto: Arquivo Pessoal

💙 Compreender é o primeiro passo para incluir. Compartilhe essa história, espalhe essa mensagem e ajude a construir um mundo mais acolhedor para todas as crianças autistas!

Foto: Arquivo Pessoal

Paula Santos é jornalista e comunicadora com ampla experiência no rádio e na televisão. Desde 2017 integra a equipe da TV Serra Geral, onde atua como repórter, âncora do jornal e apresentadora do programa Revista Feminina, além de assinar esta coluna no site da TV Serra Geral, trazendo informação, análises e conteúdos que conectam a comunidade. Atualmente, também exerce a função de Assessora de Imprensa e repórter oficial da Câmara Municipal de Janaúba, além de assinar esta coluna no site da TV Serra Geral, trazendo informação, análises e conteúdos que conectam a comunidade. Com trajetória marcada também pelo rádio, já passou por diversas emissoras em Janaúba e Nova Porteirinha, consolidando sua voz e credibilidade junto ao público regional. https://www.instagram.com/paulasantoses/ https://www.youtube.com/@serrageraltv

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